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Archive for 22 de junho de 2009

É cada vez mais perceptível a interação de faixas etárias diferentes dentro de institutos de ensino superior. Esses jovens senhores buscam satisfação acadêmica ou pessoal.
Estudantes com mais de 40 anos dividem cada vez mais a sala de aula com jovens, na maioria das vezes de forma harmoniosa. Devido à experiência adquirida ao longo da vida, os objetivos são bem definidos, e com isso dão o devido valor ao diploma em um curso superior. Muitas vezes cursado por eles como hobby, satisfação pessoal ou para o desenvolvimento e reciclagem profissional. A expectativa de vida cada vez é maior, as pessoas estão ficando mais tempo no mercado de trabalho e buscam qualificação.
Os centros acadêmicos percebem a procura e incentivam a faixa etária com programas de desconto e facilidades, tornando cada vez mais acessível à conclusão da qualificação. A cada ano mais gente experiente se mistura à juventude que integra a maior parte do quadro das faculdades. O número de alunos com mais de 40 anos nas Instituições de Ensino Superior brasileiras quase dobrou do ano 2000 para 2004, segundo os Censos da Educação Superior divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP) nestes dois períodos, passando de 55.297 alunos nesta faixa etária para 105.365
Em entrevista a uma reportagem no site da Associação dos Docentes da UFRrural – RJ, a pedagoga Haydée Maria Moreira, consultora da CM Consultoria, e especialista em Metodologias Inovadoras explica “São geralmente profissionais que não conseguiram terminar uma faculdade quando eram jovens por falta de tempo ou dificuldades financeiras e voltam aos bancos acadêmicos mais tarde, ou aqueles que procuram uma segunda graduação para se atualizar. Há também muitas mulheres que ficam com a “síndrome do ninho vazio”, porque os filhos saíram de casa e elas se vêem sem uma função. Então vão buscar outro sentido para a vida e voltam a estudar, até mesmo para acompanhar o marido, que ascendeu profissionalmente enquanto elas passavam a vida se dedicando ao lar”. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Datafolha revelou que os idosos que estudam, vivem mais e são mais felizes. Foram entrevistadas pessoas acima de 60 anos. Para elas, foram feitas perguntas como o que sentiam ao participar de algum curso. Algumas das principais respostas foram: “aumenta a vontade de viver”, “faz bem para o corpo”, “ajuda a controlar a mente e as emoções”.
A Universidade Federal de São Paulo criou em 1999 a Universidade Aberta à Terceira Idade (UAITI), onde são oferecidos cursos especiais as pessoas a partir de 50 anos, onde o objetivo principal é reciclar e atualizar seus conhecimentos, podendo dar assim um novo significado à vida. Para ingressar não é necessário diplomas ou certificados de escolaridade. Provas e notas também não são exigidas, somente algumas avaliações e pesquisas. O curso é composto por três módulos, no primeiro é visto: A Saúde Física e Mental, no segundo: Conscientização de Nova Vida no século XXI, e no último: Integração Social e Cultural, além de atividades extra-curriculares como informática, inglês, teatro, dança e etc.
A Universidade Metodista de São Paulo também criou um programa Universidade da Terceira Idade Livre, para pessoas com 50 anos ou mais que desejam participar de cursos livres em diversas áreas do conhecimento, de forma a continuar atuando em sua família e na sociedade, mas de forma diferenciada e pró-ativa. A proposta da Metodista é contribuir para propiciar uma nova compreensão dessas pessoas, da importância de lutar por seus direitos, por melhor qualidade de vida, bem como para abrir espaços de ação cidadã e contribuição social efetiva e voluntária de cada um à comunidade. No site dessa instituição é enfatizado que pessoas com essa faixa etária são portadoras dos saberes que se somam à experiência de vida, porém, é preciso atualização e acesso às áreas de conhecimento que se renovam a cada dia, haja vista que estamos vivendo na época do pensamento complexo, da informação, da globalização e da reflexão.
De acordo com a supervisora da Secretaria Geral, Gláucia Madureira, do Instituto de ensino superior de Brasília (Iesb) existem 750 alunos com 40 anos de idade ou mais. Os cursos mais escolhidos são Ciências Jurídicas, Gastronomia e Psicologia respectivamente. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) revela na pesquisa “Como vive o Idoso brasileiro” que a maioria da população brasileira que já completou 65 anos de idade continua trabalhando, continua na chefia da família e contribui com boa parte do rendimento familiar, isso os torna ativos na sociedade e uma boa opção de alunos em estabelecimentos de ensino superior, não somente pela renda, mas como uma cidadão ativo perante a sociedade.
O Centro Universitário Unieuro desenvolveu no início desse ano o programa “Projeto Melhor Idade” no qual reserva aos alunos com mais de 50 anos de idade 50% de desconto na mensalidade de seus cursos. A coordenadora financeira Márcia explica que foi um projeto de inclusão social, sem interesse financeiro, que escolheu beneficiar esse público alvo. “A procura é grande, normalmente por pessoas formadas, já graduadas.” A única divulgação do projeto foi o site, os alunos entrevistados da Unieuro não conheciam o desconto.
A estudante de arquitetura Leila Nunes, 51 anos, cursa o 9º semestre e afirma que vai entrar no mercado de trabalho. “Estou super feliz com o curso e vou querer cursar a profissão sim.” Leila se formou em turismo aos 23 anos, mas seu sonho sempre foi ser arquiteta, ela resolveu se divorciar e encontrou no curso uma ajuda para a fase difícil em sua vida.
Maria Ângela de Jesus, 45 anos, estava concentrada em seu notebook e atenta ao celular em cima da mesa, ela se formou no ano passado em direito, “Agora sou bacharel em direito” diz orgulhosa, nascida em Recife sofreu dificuldades financeira ao se mudar para Brasília, onde o custo de vida é mais alto, não conseguiu ingressar na Universidade de Brasília (UnB), casou-se e virou se tornou dona de casa. A vontade de obter um diploma em curso superior superou as dificuldades, abdicou de cuidar de sua casa e resolveu entrar na faculdade. Na época não tinha com quem deixar sua filha de 2 anos, então a levava para a sala de aula, “Ela acabou se tornando o “xodó”da turma, todo mundo cuidava um pouco .Mas também teve momentos difíceis ,”havia dias em que ela chorava ,e os professores, me olhavam meio torto, mas eu dava um jeito e continuava lá” a satisfação de Ângela é nítida ,hoje se sente realizada com o seu diploma e o apoio de sua família.
Hoje as faculdades estão mais modernas, e focam em cursos mais rápidos e voltados para a prática, pois são esses tipos de graduação que pessoas com idade mais avança vem procurando, em uma visão geral, esses “senhores” acabam sendo aliados dos alunos mais jovens, pois com conta suas bagagens e acabam efetuando trocas, a forma de encarar o ensino superior é bastante diferente, levam a sério, e para os que já encararam isso uma vez vem com naturalidade. Os alunos mais velhos são mais exigentes, reclamam mais quando professores se atrasam, querem o aprofundamento dos conteúdos, diferentemente dos jovens que estão passando por isso agora, o que seria assustador se torna natural, é essa interação faz com que aconteça uma dinâmica entre os alunos. Os mais velhos são bastante procurados para trabalhos em grupo pela experiência de vida.
O caso da Rosa Maria Bastiani Seiffert, 62 anos, viúva ha dois anos, com uma disposição que muitos jovens não têm. Dona Rosa como é conhecida, está cursando no período da manhã o último semestre de Relações Públicas, e no período da noite o 5° semestre de Direito, seu espírito de liderança fez dela Representante da turma de relações públicas, a saga de Dona Rosa é bem incomum, ela se formou em contabilidade com 35 anos, foi então que aos 45 anos completou o Magistério e prestou o vestibular para pedagogia, não deu seguimento e partiu pra a administração, desistiu do curso, fez um pouco de enfermagem. Logo o marido ficou doente e ela teve que se mudar pra Brasília, com o marido e a filha. Ficou à disposição do marido, ate ele falecer. Sua filha Juliana Seiffert começou a demonstrar um processo de início à depressão, para ajudar sua filha, a mãe se propôs a cursar o curso que a filha escolhesse com ela. Foi assim que ela começou o curso de relações públicas. Na sala ela é como se fosse a mãezona da turma, e afirma saber separar bem a relação mãe e filha, “sempre busquei a interação geral da turma, eu não protegi a minha filha em momento algum” ,conta. Também que recebeu o apoio da família e que com certeza vai atuar na área. Mas o grande sonho da senhora bem disposta, de cabelos totalmente brancos, que ela não se envergonha, pelo contrario acha o seu charme, era fazer o curso de Direito, ela então prestou o vestibular e incentivou o seu irmão a cursar também, ela conta isso com um sorriso estonteante no rosto, passou no vestibular e está realizando o seu grande sonho. Dona Rosa é uma jovem senhora que valoriza a educação, “Eu me privo de jóias, sapatos e acessórios para investir nos estudos”. Não só investi nos estudos dela, como no da filha, a Juju, como ela se referiu.
O problema que alguns dos jovens senhores podem enfrentar é a forma de ensino, na sua época de colégio, tudo era mais rigoroso, sem muita dinâmica em sala de aula, hoje é muito diferente, a forma de se ver um professor mudou. Saber usufruir da tecnologia é praticamente um pré-requisito, trabalhos realizados no “Messenger”, reuniões no “Orkut” e aulas no “Power Point” são ferramentas do ensino moderno, um obstáculo a mais para quem não é acostumado ao meio. A tecnologia está cada vez mais presente nos estudos, e para quem não nasceu na era digital, pode ficar complicado acompanhar essas mudanças.
“Essa realidade torna mais urgente a aplicação de uma metodologia ativa, ou seja, centrada no aluno, na qual o professor é um facilitador, que leva o estudante a buscar o conhecimento. Hoje, essa é a grande proposta das diretrizes curriculares”, diz Haydée. Ou seja, nunca foi tão necessário aplicar a Andragogia em sala de aula, ciência de ensinar o adulto a aprender, baseada menos em uma postura protetora e autoritária e mais voltada a torná-los capazes de criticar e analisar situações, fazer paralelos com experiências já vividas. Neste conceito de Educação, o aluno é participante ativo e não há hierarquia na relação. Além disso, cabe ao docente explicitar exatamente a utilidade de cada aula, e ter humildade para manter-se em segundo plano. “O modo de ensinar atual está aberto à diversidade. Estamos sempre buscando formas de estimular a cada um individualmente, de acordo com o seu perfil”, diz o professor de Fundamentos da Publicidade e Propaganda do IESB (Instituto de Educação Superior de Brasília), Fernando Grossi.
Os jovens senhores vêm buscando seu espaço nas universidades, e vêm mostrando que a idade não é documento, idade pode definir bagagem, mas não disposição. O que essas pessoas de mente jovem estão fazendo é focar toda a sua disposição em algo produtivo, o ensino superior. Uma lição de determinação. A fórmula do sucesso parece ser mesmo a valorização da mistura do velho e do novo, sempre se complementando.

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